Introdução COLORED AVOCADO não representa; ele irrompe. É uma peça que respira pelo gesto e transpira pela matéria, um campo de energia onde a cor se torna impulso vital. No formato vertical, a obra se ergue como um totem vegetal: uma ascensão visceral que convoca o olhar a subir e cair no mesmo ímpeto dos respingos.
Estilo No terreno do Abstracionismo Expressionista, a obra pratica a coreografia da Action Painting: a verdade do ato prevalece sobre a forma final. O dripping surge como escrita nervosa do corpo, linhas que escorrem, cruzam-se e se interrompem em uma partitura de ritmos internos. O verde em múltiplas temperaturas (musgo, limão, oliva) dialoga com amarelos incisivos e brancos cortantes, enquanto o preto atua como contrapeso, cravando pausas e densidade. O vertical favorece a sensação de crescimento — broto, caule, seiva — e a composição mantém um equilíbrio tenso entre o acaso (a queda da tinta) e a vontade (a direção do gesto). É caos disciplinado: a obra aceita o acidente para revelar uma ordem emotiva mais profunda.
Técnica O esmalte, com seu brilho industrial e viscosidade teimosa, é convocado para escorrer, coagular e refletir. O dripping não é mera citação: os fios longos e as gotas estilhaçadas indicam alternância de velocidade e altura no lançar, variação de diluição e controle de secagem. Em certos trechos, nota-se atrito — arrastes que podem ter sido feitos com espátula, cartão ou até pano, criando veios e alívios que respiram entre camadas. A mídia mista insinua grãos e porosidades que quebram o lustro do esmalte, instaurando um diálogo entre superfícies mate e vítreas; esses microchoques de textura dão corpo à luz. Há indícios de underpainting turvo que, ao transparecer, cria profundidade aérea, como um véu orgânico sob o jorro cromático. Gravidade, tempo e gesto agem como coautores do trabalho.
Enredo (Narrativa) O título é chave poética: COLORED AVOCADO não quer ser um abacate; quer encarnar sua ideia — casca, polpa e caroço convertidos em dinâmica. Os verdes densos pressupõem a pele rugosa, a resistência do exterior; os amarelos incisivos, a gordura luminosa da polpa — um luxo tátil que quase pode ser cheirado; os cortes negros, o caroço primordial — semente, núcleo, memória. O quadro encena o ciclo: amadurecer, romper, nutrir. Da banalidade doméstica surge um mito telúrico: alimento como fundamento, matéria como pulso da vida. A obra nos lembra que criação é esmagamento e liberação; que aquilo que sustenta também pode ferir; que a exuberância orgânica convive com o risco da decomposição. É vitalismo sem verniz romântico: um elogio ao vivo, com manchas, tremores e gratidão.
Conclusão COLORED AVOCADO afirma o gesto como pensamento e o escorrer como escrita. Uma pintura que pulsa entre o controle e o colapso, convertendo o cotidiano do fruto em emblema de origem e potência. É para ser vista com os olhos e metabolizada pelo corpo.
ENGLISH
Introduction COLORED AVOCADO doesn’t depict; it erupts. It is a field of energy where color becomes vital impulse. The vertical format reads like a vegetal totem, an ascent that lifts the gaze only to let it fall again in the very cadence of the splashes.
Style Firmly within Abstract Expressionism, the work embraces Action Painting’s creed: the truth of the act overrides the final form. Dripping operates as the body’s nervous handwriting, lines that fall, intersect, and break in a score of inner rhythms. Greens across temperatures (moss, lime, olive) spar with incisive yellows and cutting whites, while black functions as ballast, inserting pauses and density. The verticality intensifies a sense of growth — sprout, stem, sap — and the composition holds a taut balance between chance (the drop) and will (the directed gesture). It is disciplined chaos: accidents are admitted to reveal a deeper emotive order.
Technique Enamel brings industrial gloss and stubborn viscosity, enlisted to drip, congeal, and reflect. The dripping is not a citation but a method: long filaments and shattered droplets indicate changes in throwing speed and height, dilution shifts, and careful timing of drying. Frictive passages suggest dragging — with a knife, card, or cloth — carving veins and reliefs that let the surface breathe. Mixed media implies grains and porosities that fracture the enamel’s sheen, staging a dialogue between matte and vitreous planes; these microclashes of texture are how the painting catches light. A hazed underpainting peeks through in places, adding atmospheric depth like an organic veil beneath the chromatic surge. Gravity, time, and gesture stand as co-authors of the work.
Narrative (Plot/Meaning) The title is a poetic key: COLORED AVOCADO does not aim to be an avocado; it embodies its idea — skin, pulp, and pit converted into dynamic force. Dense greens imply the tough rind; incisive yellows the luminous fat of the pulp; black slashes invoke the primordial pit — seed, core, memory. The painting stages a cycle: to ripen, to break, to nourish. From domestic banality emerges a telluric myth: food as fundament, matter as the pulse of life. The work reminds us that creation is both crushing and release; that what sustains can also bruise; that organic exuberance cohabits with the risk of decay. It is vitalism without a romantic gloss — an ode to the living, with stains, tremors, and gratitude.
Conclusion COLORED AVOCADO asserts gesture as thought and dripping as script. It lives between control and collapse, turning an everyday fruit into an emblem of origin and potency — seen with the eyes, metabolized by the body.
A Galeria Margot nasceu do olhar sensível e da jornada pessoal do médico e artista plástico Fábio Teixeira. Fundada como um espaço de expressão e resiliência, a galeria celebra a arte contemporânea em suas diversas formas, refletindo a paixão de seu idealizador por cores, texturas e a capacidade transformadora da criação artística. Mais que uma galeria, é um lugar onde a arte floresce como um legado de amor e superação.