PATCHWORK
Em Português
Título da Obra: PATCHWORK Dimensões: 98 x 83 cm Técnica: Tinta a óleo, mídia mista e recortes de canvas pintados colados sobre canvas não preparado
A obra "PATCHWORK" emerge como uma fascinante exploração da materialidade pictórica e da memória afetiva, onde a técnica se torna metáfora e a superfície se transforma em narrativa tátil.
Técnica Utilizada: A técnica empregada é de uma complexidade e originalidade notáveis. O uso de canvas não preparado como base é fundamental para o efeito final - a ausência de primer permite que a tinta seja absorvida de forma irregular pelas fibras, criando áreas de maior e menor saturação que conferem organicidade à superfície. Sobre esta base porosa, os recortes de canvas previamente pintados são colados, criando uma topografia física que transcende a bidimensionalidade tradicional da pintura. Esta sobreposição de camadas - tanto pictóricas quanto físicas - resulta em uma obra que é simultaneamente pintura, colagem e baixo-relevo. A tinta a óleo interage de forma diferente com cada superfície: flui e se espalha no canvas cru, enquanto se comporta de maneira mais controlada sobre os fragmentos preparados. As bordas dos recortes criam linhas de tensão e sombras naturais que se integram à composição, enquanto as variações de espessura conferem ritmo visual à obra. A paleta de rosas vibrantes, vermelhos intensos e tons terrosos cria uma sinfonia cromática que evoca tanto a delicadeza quanto a intensidade emocional.
Estilo: O estilo situa-se na intersecção entre o neo-expressionismo e a arte conceitual contemporânea, com claras influências da tradição da colagem e do assemblage. A obra dialoga com movimentos como a Arte Povera na valorização de materiais não convencionais e processos artesanais. Há ecos de Robert Rauschenberg em sua abordagem híbrida, mas com uma sensibilidade mais íntima e pessoal. A composição é orgânica e não hierárquica, permitindo que cada "retalho" mantenha sua individualidade enquanto contribui para o conjunto. O estilo celebra a imperfeição e o acaso controlado, características que remetem tanto à tradição têxtil quanto à pintura gestual. A ausência de perspectiva tradicional e a ênfase na materialidade conferem à obra uma qualidade quase arqueológica, como se cada fragmento carregasse sua própria história.
Contexto Poético: O título "PATCHWORK" e sua conexão com a colcha de retalhos recebida no Arizona nos anos 90 estabelecem um contexto poético profundamente tocante. A obra transcende sua materialidade para se tornar um repositório de memórias e afetos. Cada "retalho" pintado pode ser lido como um fragmento de experiência, uma lembrança cristalizada em cor e textura. A colcha original, presente de uma amiga, carregava em si a tradição feminina do trabalho manual, da economia doméstica e da transformação de restos em beleza útil. Esta pintura reinterpreta essa tradição através da linguagem contemporânea, transformando a necessidade em poesia e o funcional em contemplativo. Os tons rosados e vermelhos evocam calor humano, intimidade e afeto, enquanto a textura irregular sugere a passagem do tempo e a pátina da memória. A obra convida a uma reflexão sobre como construímos nossa identidade através de fragmentos - experiências, relacionamentos, lugares, objetos - que, aparentemente desconexos, se unem para formar o tecido de nossa existência. O canvas não preparado pode simbolizar a vulnerabilidade e a receptividade necessárias para que essas memórias se imprimam em nós, enquanto os recortes colados representam as experiências que carregamos conosco, transformadas pela arte em algo novo e belo. É uma celebração da amizade, da memória e da capacidade humana de criar significado e beleza a partir de fragmentos do vivido.
In English
Art Critique: PATCHWORK
Artwork Title: PATCHWORK Dimensions: 98 x 83 cm Medium: Oil paint, mixed media, and painted canvas cutouts glued onto unprimed canvas
The artwork "PATCHWORK" emerges as a fascinating exploration of pictorial materiality and affective memory, where technique becomes metaphor and surface transforms into tactile narrative.
Technique Used: The technique employed is of remarkable complexity and originality. The use of unprimed canvas as a base is fundamental to the final effect - the absence of primer allows paint to be absorbed irregularly by the fibers, creating areas of greater and lesser saturation that confer organicity to the surface. Over this porous base, previously painted canvas cutouts are glued, creating a physical topography that transcends traditional painting's two-dimensionality. This layering - both pictorial and physical - results in a work that is simultaneously painting, collage, and bas-relief. Oil paint interacts differently with each surface: it flows and spreads on raw canvas while behaving more controllably on prepared fragments. The edges of cutouts create tension lines and natural shadows that integrate into the composition, while thickness variations confer visual rhythm to the work. The palette of vibrant pinks, intense reds, and earthy tones creates a chromatic symphony that evokes both delicacy and emotional intensity.
Style: The style is situated at the intersection of neo-expressionism and contemporary conceptual art, with clear influences from collage and assemblage traditions. The work dialogues with movements like Arte Povera in its valorization of unconventional materials and artisanal processes. There are echoes of Robert Rauschenberg in its hybrid approach, but with a more intimate and personal sensibility. The composition is organic and non-hierarchical, allowing each "patch" to maintain its individuality while contributing to the whole. The style celebrates imperfection and controlled chance, characteristics that reference both textile tradition and gestural painting. The absence of traditional perspective and emphasis on materiality give the work an almost archaeological quality, as if each fragment carried its own history.
Poetic Context: The title "PATCHWORK" and its connection to the patchwork quilt received in Arizona in the 90s establish a deeply touching poetic context. The work transcends its materiality to become a repository of memories and affections. Each painted "patch" can be read as a fragment of experience, a memory crystallized in color and texture. The original quilt, a friend's gift, carried within it the feminine tradition of manual work, domestic economy, and the transformation of scraps into useful beauty. This painting reinterprets that tradition through contemporary language, transforming necessity into poetry and the functional into the contemplative. The pink and red tones evoke human warmth, intimacy, and affection, while irregular texture suggests the passage of time and memory's patina. The work invites reflection on how we construct our identity through fragments - experiences, relationships, places, objects - that, apparently disconnected, unite to form the fabric of our existence. The unprimed canvas might symbolize the vulnerability and receptivity necessary for these memories to imprint upon us, while the glued cutouts represent experiences we carry with us, transformed by art into something new and beautiful. It is a celebration of friendship, memory, and the human capacity to create meaning and beauty from fragments of the lived experience.
A Galeria Margot nasceu do olhar sensível e da jornada pessoal do médico e artista plástico Fábio Teixeira. Fundada como um espaço de expressão e resiliência, a galeria celebra a arte contemporânea em suas diversas formas, refletindo a paixão de seu idealizador por cores, texturas e a capacidade transformadora da criação artística. Mais que uma galeria, é um lugar onde a arte floresce como um legado de amor e superação.