CARTOGRAPHY

Análise Técnica A obra "Cartography" apresenta uma composição abstrata dominada por uma paleta de cores terrosas: marrom profundo, ocre vibrante e bege suave. A superfície é ricamente texturizada, exibindo áreas com uma aparência granulada e porosa, reminiscentes de papel envelhecido ou terrenos áridos vistos de cima. Há também seções com rachaduras finas e marcadas, que sugerem a passagem do tempo e o desgaste de um artefato antigo. Manchas e escorrimentos de tons mais escuros criam contornos e contrastes, delineando formas orgânicas que podem ser interpretadas como massas de terra, rios ou características geológicas em um mapa.

A técnica empregada é fundamental para o sucesso do conceito. A massa de látex, com sua capacidade de formar texturas espessas e craqueladas ao secar, é o principal agente na criação do efeito envelhecido e geológico. O esmalte, provavelmente aplicado em camadas finas ou como um aglutinante, pode ter contribuído para a fluidez de certas manchas e para um brilho sutil em algumas áreas, simulando a película protetora ou o verniz de um mapa. A "mídia mista" sugere a sobreposição de diferentes substâncias que reagem entre si, criando os diversos padrões e profundidades visuais. O uso de uma tela não preparada de 200g de gramatura é uma escolha deliberada que intensifica o caráter orgânico e tátil da obra, pois o tecido absorve os pigmentos de forma irregular, reforçando a sensação de um material antigo e intocado pela modernidade.

Análise Conceitual "Cartography" evoca uma poderosa conexão com a inspiração declarada: os mapas antigos dos séculos XIII e XIV, da Era dos Grandes Descobrimentos Portugueses e Espanhóis. A escolha das cores marrom, ocre e bege não é apenas estética, mas funcional, pois remete diretamente à coloração típica dos pergaminhos e papéis de mapas daquela época, descoloridos pelo tempo. As texturas, em particular, são cruciais para a narrativa da obra. As fissuras e as áreas que parecem ter secado e rachado não apenas simulam o envelhecimento físico de um mapa, mas também podem simbolizar as incertezas, os desafios e as descobertas fragmentadas de uma era de exploração. A mídia mista, com sua variedade de acabamentos e a massa de látex que confere volume e profundidade, permite que o observador sinta quase a materialidade de um mapa antigo, gastado pelas mãos de navegadores e descobridores. A obra não é um mapa literal, mas uma abstração emocional e material da experiência de mapear o desconhecido, capturando a essência da aventura, do mistério e da beleza efêmera da descoberta.

Análise Estilística Estilisticamente, "Cartography" situa-se no campo da arte abstrata contemporânea com forte ênfase na materialidade e no conceito. A  obra é expressiva de uma ideia histórica e material. Ela dialoga com tendências que exploram a textura e a superfície como portadoras de significado, remetendo a Informalist Painting (informalismo) ou Arte Povera na valorização de materiais simples e processos naturais. A obra também se conecta com a arte conceitual ao utilizar um título específico para guiar a interpretação e ao explorar uma temática histórica (a cartografia e os descobrimentos) através de uma abordagem não-figurativa, transformando a tela num objeto evocativo de memória e tempo. A escolha de uma tela não preparada e a técnica de mídia mista ampliam o vocabulário artístico, permitindo que o suporte e os materiais sejam parte integrante da mensagem, refletindo o caráter rudimentar e orgânico dos mapas antigos.

ENGLISH

Technical Analysis The artwork "Cartography" presents an abstract composition dominated by an earthy color palette: deep brown, vibrant ochre, and soft beige. The surface is richly textured, exhibiting areas with a granular and porous appearance, reminiscent of aged paper or arid terrains viewed from above. There are also sections with fine, distinct cracks, suggesting the passage of time and the wear of an ancient artifact. Stains and drips of darker tones create contours and contrasts, outlining organic shapes that can be interpreted as landmasses, rivers, or geological features on a map.

The technique employed is fundamental to the concept's success. Latex paste, with its ability to form thick, cracked textures upon drying, is the primary agent in creating the aged and geological effect. Enamel, likely applied in thin layers or as a binder, may have contributed to the fluidity of certain stains and a subtle sheen in some areas, simulating a protective film or varnish on a map. "Mixed media" suggests the layering of different substances that react with each other, creating diverse visual patterns and depths. The use of an unprepared 200g canvas is a deliberate choice that enhances the artwork's organic and tactile character, as the fabric absorbs pigments irregularly, reinforcing the sensation of an ancient material untouched by modernity.

Conceptual Analysis "Cartography" evokes a powerful connection to its stated inspiration: the ancient maps of the 13th and 14th centuries, from the Age of Great Portuguese and Spanish Discoveries. The choice of brown, ochre, and beige colors is not merely aesthetic but functional, as it directly references the typical coloration of parchments and map papers of that era, faded by time. The textures, in particular, are crucial to the artwork's narrative. The fissures and areas that appear to have dried and cracked not only simulate the physical aging of a map but can also symbolize the uncertainties, challenges, and fragmented discoveries of an era of exploration. The mixed media, with its variety of finishes, and the latex paste that provides volume and depth, allow the observer to almost feel the materiality of an ancient map, worn by the hands of navigators and discoverers. The work is not a literal map but an emotional and material abstraction of the experience of mapping the unknown, capturing the essence of adventure, mystery, and the ephemeral beauty of discovery.

Stylistic Analysis Stylistically, "Cartography" is situated in the field of contemporary abstract art with a strong emphasis on materiality and concept. The work is expressive of a historical and material idea. It dialogues with trends that explore texture and surface as carriers of meaning, echoing Informalist Painting or Arte Povera in the valorization of simple materials and natural processes. The artwork also connects with conceptual art by using a specific title to guide interpretation and by exploring a historical theme (cartography and the discoveries) through a non-figurative approach, transforming the canvas into an evocative object of memory and time. The choice of an unprepared canvas and the mixed media technique expand the artistic vocabulary, allowing the support and materials to be an integral part of the message, reflecting the rudimentary and organic nature of ancient maps.