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"AZTECA" apresenta-se como uma obra magistral que estabelece um diálogo fascinante entre o expressionismo abstrato contemporâneo e a iconografia pré-colombiana. Esta imponente composição (100 x 90 cm) executada em óleo e mídia mista sobre canvas, revela uma abordagem transcultural sofisticada, onde a linguagem visual moderna se entrelaça com referências à complexa cosmologia asteca. O formato quase quadrado cria um campo pictórico equilibrado que evoca os códices mesoamericanos, enquanto a técnica mista introduz uma dimensão tátil que transcende a bidimensionalidade tradicional da pintura.

A paleta cromática é particularmente notável, dominada por ocres terrosos, vermelhos sangue e turquesas vibrantes que remetem diretamente aos pigmentos naturais utilizados na arte asteca original. Estes tons não são empregados de forma meramente decorativa, mas conceitualmente estruturante, estabelecendo zonas cromáticas que sugerem os diferentes níveis do cosmos asteca – o inframundo, o plano terrestre e o reino celestial. O artista manipula magistralmente a textura através da incorporação de materiais diversos, criando relevos e incisões que evocam os entalhes em pedra e as superfícies de estuque pintado dos templos mesoamericanos, sem jamais cair na imitação literal ou no pastiche etnográfico.

A composição orquestra um equilíbrio dinâmico entre estruturas geométricas rígidas – reminiscentes dos padrões matemáticos precisos da arquitetura e calendários astecas – e elementos mais fluidos e gestuais que sugerem movimento ritual e transformação xamânica. Particularmente fascinante é a presença de formas que simultaneamente evocam glifos astecas e se recusam a ser completamente decodificadas, criando um sistema semiótico que opera na fronteira entre o reconhecível e o enigmático. Esta ambiguidade deliberada convida o espectador a uma experiência interpretativa ativa, espelhando o próprio processo de decifração arqueológica da cultura asteca.

O tratamento da luz na obra transcende convenções naturalistas, criando uma luminosidade interna que parece emanar de pontos focais específicos da composição, reminiscente da importância cosmológica do sol na religião asteca. Sombras profundas contrastam com áreas de brilho intenso, estabelecendo ritmos visuais que sugerem os ciclos temporais fundamentais para a concepção asteca do universo. 

Em sua essência, "AZTECA" não é uma mera apropriação estética de motivos pré-colombianos, mas uma meditação profunda sobre o diálogo entre temporalidades e sistemas de conhecimento distintos. A obra convida o espectador a contemplar como civilizações aparentemente distantes podem estabelecer conexões através da linguagem visual, e como a arte contemporânea pode revitalizar, sem colonizar, tradições ancestrais. Como uma ponte entre mundos – o antigo e o contemporâneo, o ocidental e o mesoamericano, o material e o espiritual – esta pintura oferece não apenas uma experiência estética impactante, mas também um espaço de reflexão sobre identidade cultural, memória histórica e a persistência de cosmologias alternativas em um mundo cada vez mais homogeneizado.

ENGLISH

"AZTECA" presents itself as a masterful work that establishes a fascinating dialogue between contemporary abstract expressionism and pre-Columbian iconography. This imposing composition (100 x 90 cm) executed in oil and mixed media on canvas reveals a sophisticated transcultural approach, where modern visual language intertwines with references to the complex Aztec cosmology. The almost square format creates a balanced pictorial field that evokes Mesoamerican codices, while the mixed technique introduces a tactile dimension that transcends the traditional bidimensionality of painting.

The color palette is particularly notable, dominated by earthy ochres, blood reds, and vibrant turquoises that directly recall the natural pigments used in original Aztec art. These tones are not employed merely decoratively but as conceptually structuring elements, establishing chromatic zones suggesting the different levels of the Aztec cosmos—the underworld, the earthly plane, and the celestial realm. The artist masterfully manipulates texture through the incorporation of diverse materials, creating reliefs and incisions that evoke stone carvings and the painted stucco surfaces of Mesoamerican temples, without ever descending into literal imitation or ethnographic pastiche.

The composition orchestrates a dynamic balance between rigid geometric structures—reminiscent of the precise mathematical patterns of Aztec architecture and calendars—and more fluid, gestural elements suggesting ritual movement and shamanic transformation. Particularly fascinating is the presence of forms that simultaneously evoke Aztec glyphs and refuse to be fully decoded, creating a semiotic system operating on the boundary between the recognizable and the enigmatic. This deliberate ambiguity invites the viewer to an active interpretative experience, mirroring the very process of archaeological deciphering of Aztec culture.

The treatment of light in the work transcends naturalistic conventions, creating an internal luminosity that seems to emanate from specific focal points of the composition, reminiscent of the cosmological importance of the sun in Aztec religion. Deep shadows contrast with areas of intense brightness, establishing visual rhythms that suggest the temporal cycles fundamental to the Aztec conception of the universe.

In essence, "AZTECA" is not a mere aesthetic appropriation of pre-Columbian motifs but a profound meditation on the dialogue between distinct temporalities and knowledge systems. The work invites the viewer to contemplate how seemingly distant civilizations can establish connections through visual language, and how contemporary art can revitalize, without colonizing, ancestral traditions. As a bridge between worlds—the ancient and the contemporary, the Western and the Mesoamerican, the material and the spiritual—this painting offers not only a powerful aesthetic experience but also a space for reflection on cultural identity, historical memory, and the persistence of alternative cosmologies in an increasingly homogenized world.

Sobre a loja

A Galeria Margot nasceu do olhar sensível e da jornada pessoal do médico e artista plástico Fábio Teixeira. Fundada como um espaço de expressão e resiliência, a galeria celebra a arte contemporânea em suas diversas formas, refletindo a paixão de seu idealizador por cores, texturas e a capacidade transformadora da criação artística. Mais que uma galeria, é um lugar onde a arte floresce como um legado de amor e superação.

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